Quando Biruca, Naé, Aurelino, Taquá , Pau de Chinelo e outros, em pleno carnaval, se “enfeitavam”, lá para as bandas do Rasteiro, após alguns goles de cachaça, jamais imaginavam que a idéia de usar folhagem como fantasia iria se tornar no maior bloco carnavalesco deste povo criativo e festeiro. Entravam eles, com passos trôpegos – “passos bêbados” – nas ruas da cidade, sob a batida surda dos tambores de couro de cobra sucurujuba – aqui conhecida por sucuruiuba – , marca inconteste dos antigos “quebra-galhos”. Surgia, assim, o ROMPE BRASA, o mais expressivo movimento de folia carnavalesca que se tem conhecimento nos últimos anos, porquanto joga por terra todos os princípios de organização, crença religiosa, preconceitos, avareza e egocentrismo. Não há diretoria oficial, não se exige pagamentos de taxas ou mensalidades, não existem porta-bandeira nem mestre -sala, mestre de bateria ou comissão de frente. Tudo é feito de improviso, na hora ! A fantasia, um ramo qualquer ou uma árvore inteira, basta que o folião agüente carregá-la.
O Rompe Brasa sai religiosamente na segunda de carnaval, levando em seu “bojo”: doutores, garis, professores, desocupados, senhoras, jovens, pescadores, pedreiros, profissionais liberais, estudantes e visitantes, sem nenhuma discriminação social, cultural, política ou religiosa. É aquela massa verde, compacta, desfilando pelas principais ruas e avenidas, ao som dos atabaques. A batida inconfundível de sua percussão faz a gente esquecer, momentaneamente, das jovens malhadas de bumbuns e pernas provocantes, das músicas batidas de Thuco e Dalila e navegar no mundo da imaginação que sob a folhagem dos foliões há muita alegria e muita fuga de uma realidade … O Rompe Brasa é tão contagiante que em 82, enquanto o rio Jequitinhonha “alagava” derrubando o fundo da igreja da Matriz, o padre Ângelo Agazzi, sem ter noção da gravidade da enchente do rio, saltitava,enfeitado com folhagem, na frente do Rompe Brasa, que desfilava garbosamente com seu mais ilustre componente. As beatas que assistiam a todo aquilo, rezavam para proteger a igreja dos castigos provocados pela irreverência do padre que não resistiu a tentação do Rompe Brasa.