Os Correios iniciaram nesta terça-feira (18) uma greve nacional por tempo indeterminado devido à falta de acordo sobre reajustes salariais e reduções em direitos trabalhistas. A paralisação, também, é um movimento da categoria para se posicionar contra a privatização da estatal, que está em fase de análise pelo governo federal, mas mantém um número mínimo de trabalhadores pelo fato de o serviço ser considerado essencial.
A paralisação já vinha sendo sinalizada há algumas semanas, diante da falta de acordo entre sindicatos da categoria, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (FENTECT) e o governo. O primeiro indicativo de greve, inclusive, veio no dia 4 de agosto, mas devido à grande quantidade de organizações regionais, a categoria decidiu dar um pouco mais de tempo para que todos se mobilizassem e, quem sabe, obtivessem um acordo com a administração da estatal, o que não aconteceu.
A categoria denuncia o corte de 70 benefícios da classe, como vale-alimentação, auxílio-creche e reduções de até 30% no adicional de risco, além de pagamentos com descontos indevidos e um aumento na parcela a ser paga por planos de saúde, o que tornou a cobertura impraticável para muitos dos funcionários, que recebem o piso salarial. Além disso, desde julho, os funcionários dos Correios denunciam a falta de equipamentos de proteção individual contra o coronavírus, colocando em risco a saúde dos trabalhadores e também de suas famílias.
Além disso, a federação afirma que a empresa dá lucro e que há uma discrepância elevada entre os salários da diretoria e dos funcionários, com alguns militares nos postos de chefia da estatal chegando a receber salários de até R$ 46 mil enquanto trabalhadores de carreira ainda recebem R$ 1,7 mil por mês. As mudanças na administração ao longo dos últimos dois anos teriam ampliado esse abismo, além de levarem os Correios ainda mais no caminho da privatização.
A gestão da estatal, entretanto, fala em crise e afirma que a proposta de redução apresentada aos trabalhadores é condizente com o estado financeiro da empresa e a realidade do Brasil. O novo acordo coletivo com o qual os funcionários não concordaram seria uma forma de recuperar o déficit registrado ao longo dos últimos anos nas contas dos Correios, além de aproximar os benefícios dos trabalhadores do que está previsto na CLT.
A ideia seria gerar uma economia de R$ 600 milhões por meio de alterações no adicional noturno e nos períodos de licença maternidade, além de reduzir bônus de férias para 1/3 do salário, ao contrário dos 2/3 que são praticados hoje. Multas e benefícios extras dados ao final do ano seriam extintos, assim como o Vale-Cultura, com a expectativa de que as mudanças, em alguns anos, sejam capazes de reverter as contas negativas da estatal.
O presidente dos Correios, General Floriano Peixoto, afirma ainda que a greve é uma forma de desinformar os trabalhadores sobre o processo de privatização, que não faria parte da alçada dos Correios, e sim, estaria sendo conduzido por órgãos competentes do governo federal. A ideia, segundo ele, é encontrar a melhor alternativa para a empresa e para a sociedade.