A cultura regional é riquíssima nas comunidades deste pedaço de terra do extremo sul baiano, cujos saberes e estórias foram passados de geração a geração, nos bate-papo de pescadores, trabalhadores rurais, professores, garis, diretores, contadores de causos e gente simples que acreditavam em lendas e superstições, tempo em que essa diversidade cultural formava nas consciências juvenis, fobias e traumas que se incorporavam à personalidade em formação.
Durante a quaresma, o medo de sair à noite, aumentava com a perspectiva de encontrar lobisomem e os seus uivos sinistros, figura híbrida de homem e lobo, cuja metamorfose acontecia após o homem se espojar numa encruzilhada, depois das 24 badaladas noturnas (meia-note), da Sexta-Feira Santa. Era a hora da meninada tremer de medo sob o cobertor ou mijar na cama de tanto pavor ao ouvir a cachorrada latir, porque farejou o lobo cabeludo com cara de homem.
Muitas pessoas relatam histórias – ou estórias – de ter visto a mulher de branco que morreu de tristeza por ter sido abandonada no altar. Outras, contam ter visto o vulto da mula-sem-cabeça ou mula-de-padre, passando em disparada pelas ruas, depois do padre local ter sido desrespeitado. Entrar nas matas sem um pedaço de fumo-de-rolo no bolso para oferecer à Caipora, nem pensar, pois fatalmente, você se perderia ou teria dificuldades em retornar para casa. O pedaço de fumo de corda era o presente que a Caipora ou Saci Pererê mais gostava para usar no seu enorme cachimbo. Outra prática para se livrar da Caipora era vestir a roupa pelo avesso ou dar um nó na camisa.
Quem não se lembra do costume de espalhar areia branca no chão da casa e salpicar folhas de pitanga? Comentava-se se tratar de culto aos espíritos dos ancestrais. A coruja, símbolo de sabedoria, sempre foi vista como sinal de mau agouro. O seu chilreado noturno sobre o telhado de uma casa era a sentença de morte de um ente querido daquele lar. Quantos corajosos não fugiram do fogo fátuo que saía dos túmulos à noite, no cemitério municipal e do Morcegão Vampiro que saia em busca de sangue fresco, lá pras bandas do matadouro?
Esses elementos culturais se perderam no tempo. As “brincadeiras de terreiro” perderam seu valor, primeiro com a chegada do Gibi com seus heróicos personagens, dentre eles o famoso Tarzan, o Cavaleiro Negro, o Zorro e etc., e ainda o advento da internet para dar lugar a heróis da TV como He Man, Mulher Maravilha, Chaves e outros, seqüestraram as crianças para sessões de “besteirol” onde aprendem “eu tenho a força” ou “vocês não contavam com a minha astúcia! Só sabemos que ampliaram-se os conhecimentos globalizados, mas se esqueceram das cantigas de roda, do trava-linguas, das adivinhações, dos causos e estórias contados pelos nossos avós que sempre concluíam assim: “entrou pelo pé do pato e saiu pelo pé do pinto…” quanta saudade!!!!….