O diatribe contra o Promotor de Justiça começa comparando sua pequena estatura com sua restrita ética na lida à frente do Ministério Público durante o período do governo revolucionário. O “Satanás” escriba nato, leitor contumaz de Maquiavel, crítico ferrenho de seus opositores, ousado em suas ações, resolveu cutucar com seu tridente o Promotor Público, por discordar de uma sentença proferida, contrariando os interesses do grande “Satã”.
O jornal foi às ruas numa sexta-feira à tarde e ainda quente pela impressão recente na gráfica local, trazia em letras garrafais na primeira página: Promotor de Injustiça! Logo, logo, o alto Magistrado tomou conhecimento do “libelo acusatório”, conferiu se o seu treisoitão estava municiado, o enfiou no coldre que estava preso á sua cintura e convocou três soldados armados com fuzis para fazerem campana nas proximidades da Prefeitura, esperando dar voz de prisão ao intrépido “Satanás” e fazê-lo engolir o jornal que o Promotor trazia no bolso do paletó.
A população nativa jamais havia vivido uma tarde igual àquela e esperava pelo desfecho da contenda entre o administrativo “Satanás” e o Promotor de Justiça da Comarca. Estrategicamente os soldados Futuca, Leite e Salatiel empunhavam seus mosquetões Fall na esperança de render o intrépido “Satanás” e entregá-lo ao Promotor que a tudo assistia, pitando seu charuto de fumo especial das fábricas de Santo Amaro da Purificação. As pessoas se acotovelavam no cruzamento da Riomar e D. Pedro II, aguardando o grande final, tempo em que arriscavam palpites diversos. A esquina do Samburá com a Capitania dos Portos recebia agente da Ponta de Areia e Centro comercial; as pessoas da Biela e Gogó-da-Ema se aglomeravam em frente a padaria de Burlarcchini, aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Alguns torciam para o “Satanás”, enquanto outros para o Promotor.
O “Satanás”, escondido nas dependências do paço Municipal, assistia a toda movimentação policial e preparava uma estratégia de fuga, auxiliado pelos seus séquitos e camaradas. Chamaram às pressas o piloto para deixar o seu velho Teco-Teco com o motor ligado na pista de pouso, acionaram os proprietários de carros da corrente “diabólica”, esconderam o “Satanás” no porta-malas de um automóvel e bateram em retirada para o aeroporto, donde pode voar para longe da ira do Promotor o autor da diatribe mais ácida que escrevera contra o Magistrado. E tudo acabou como uma estória da carochinha.