A dificuldade dos municípios diante da pior crise que atinge as prefeituras desde 2008 é apontada como principal fator para a diminuição do número de prefeitos reeleitos no estado. De acordo com dados da União dos Municípios da Bahia (UPB), o cenário de descrédito dos atuais gestores era previsto, ao ponto de 35% dos prefeitos considerados aptos a se reelegerem terem desistido de disputar o pleito. Dos 204 que se mantiveram na disputa apenas 77 (37%) alcançaram êxito nestas eleições municipais de 2016.
A presidente da UPB, prefeita Maria Quitéria, lembra que a governabilidade nos municípios foi afetada pela queda da arrecadação, atrasos nos repasses federais e estaduais, além da necessidade de adequação à legislação, o que fez muitos gestores demitirem funcionários, gerando insatisfação no eleitorado. Somente o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), amargou nos primeiros seis meses deste ano uma queda equivalente a 10%, considerando a inflação. “Na atual conjuntura, com aumento de salários, elevação no valor da energia elétrica, combustível e insumos, sobrava muito pouco para investir em obras de infraestrutura com recursos próprios”, explica Maria Quitéria.
A prefeita de Amargosa, Karina Silva foi uma das que desistiu de se candidatar. Filha de uma ex-prefeita, ela lembra que a situação nunca foi tão desesperadora. “A receita não acompanha de forma nenhuma o aumento das despesas. A gente não tinha como planejar as ações diante dessa crise”, relatou. O município de cerca de 40 mil habitantes tem um hospital municipal com 53 leitos e enormes dificuldades para se manter. Karina explica que a pactuação com estado e municípios na regulação para a unidade “nunca é suficiente porque a Tabela do SUS está defasada e a prefeitura é quem tem que complementar o valor repassado para o procedimento”.
Para comprometer ainda mais o quadro negativo nas prefeituras, diversas obras federais iniciadas nos municípios, tiveram o cronograma atrasado e ficaram inacabadas, deixando a conta para o gestor municipal. Em todo o país os Restos a Pagar devidos pela União às prefeituras alcançam R$ 43 bilhões. Prefeito experiente, que já exerceu quatro mandatos, Almir Melo não conseguiu a reeleição em Canavieiras, no Baixo Sul. Ele afirma ter recebido com “naturalidade o resultado das urnas” e acredita que “a crise que se abateu nas prefeituras” tenha interferido diretamente nos resultados adversos para vários prefeitos.
A Prefeita Alice Britto de Belmonte também sofreu com as receitas magras auferidas durante a sua gestão. A gestora lutou para conseguir enquadrar as contas nas sucessivas quedas de arrecadação que teve o seu auge no segundo semestre de 2015 onde a mesma chegou a atrasar os salários dos servidores. “Nós chegamos a reduzir os salários dos Secretários Municipais e até o salário da própria prefeita, reduzimos gastos e passamos a viver em um controle fiscal ferrenho, mas a situação ficou insustentável.” – Comentou Ivani Santana, Secretária Municipal de Finanças de Belmonte. Os ex-coordenadores de campanha da gestora acreditam que a crise foi o pior inimigo de Alice na disputa pela reeleição e os adversários políticos souberam usar isso contra a mesma durante a corrida eleitoral. “As dificuldades enfrentadas nos prejudicou muito e isso acabou influenciando o eleitorado. Os nossos adversários não contaram a realidade do município em sua totalidade e usaram a situação difícil para enfraquecer Alice. Nós acabamos sofrendo com uma conjuntura econômica que não estava sob o nosso controle. Qualquer gestor no lugar de Alice sofreria as mesmas consequências. ” – Comentou Carlos Cruz, Secretário Municipal de Infraestrutura.