A erosão costeira tem se tornado um tema cada vez mais frequente visto que ocorre em 70% das praias do mundo. O fenômeno é estabelecido quando as perdas de areia do litoral excedem os ganhos, o que pode levar à redução da área de praia e prejuízos econômicos. Esse fato está sendo vivido pela população de Belmonte, onde, mais uma vez, na última terça-feira (10/03), as fortes ondas avançaram contra a Praia do Mar Moreno ameaçando as poucas barracas que restaram. Muito se comenta sobre as causas do avanço do mar e, diante das dúvidas, nossa equipe conversou com a oceanógrafa e especialista em gestão de ambiente costeiro formada na UFBA, Milena Nervino, que vem estudando a costa belmontense e apresentou um panorama detalhado baseado em fotos de satélite dos últimos 34 anos que mostram o quanto a Praia do Mar moreno é sensível ao processo de erosão costeira.
Em conversa com nossa equipe, Milena Nervino, explicou que a perda da capacidade do Rio Jequitinhonha de transportar areia para compor a praia é a principal causa do fenômeno, já que, o Jequitinhonha tem sofrido uma aguda crise hídrica nas últimas décadas agravada com as construções de barragens no curso de seu leito. A especialista ainda explicou que na costa existe uma corrente costeira chamada de deriva litorânea e que essa corrente é responsável por distribuir a areia que chega através do rio ao longo do litoral. “Com a diminuição da capacidade do Rio Jequitinhonha em transportar areia, a corrente de deriva litorânea tende a retirar material da região próxima à desembocadura do Rio Jequitinhonha e distribuir para as regiões adjacentes como, por exemplo, Mogiquiçaba, que teve um importante crescimento de praia dentro desses 34 anos.” – Explicou Milena.
O mapa mostrado acima, que é resultado da pesquisa, mostram áreas pintadas em vermelho que não existem mais por causa da erosão. As áreas em verde são as que cresceram com os depósitos de areia. Um fato importante é que os estudos mostraram que, ao contrário do que se pensa, a maior parte da região teve a praia aumentada de tamanho evidenciando uma tendência progradacional nos últimos 34 anos. “O problema é que, de fato, a praia de Belmonte é a mais afetada pela erosão e também é a região com mais imóveis na orla e que, consequentemente, irá sofrer com este fenômeno.” – Comentou a oceanógrafa.
Milena também lembrou que a erosão costeira é um fenômeno natural e que os prejuízos econômicos ocorrem porque as pessoas desejam construir cada vez mais perto da praia, fato que ela não aconselha pelo fato de que esse ambiente é exposto a condições adversas e muda ao longo do tempo se tornando uma área de risco à ocupação. “É necessário planejamento antes de qualquer obra considerando sempre uma faixa de recuo segura para a prosperidade da propriedade, visto que, com o as mudanças climáticas e aumento do nível do mar a tendência é que a costa sofra cada vez mais eventos erosivos e inundações.” – Finalizou a especialista.