Na audiência pública que discutiu os impactos socioambientais e econômicos causados pela construção de uma barragem sobre o Rio Jequitinhonha, pelo Grupo Neoenergia, o deputado estadual Marcelino Galo (PT), proponente do debate, voltou a defender que a empresa faça a recuperação ambiental do ecossistema local e apresente contrapartidas à população de Belmonte e municípios do Extremo Sul prejudicados pela construção da hidrelétrica de Itapebi. A hidrelétrica tem capacidade para uma geração total de 1,9 milhão MWh/ano de energia. Esse volume está contratado até 2017 pela Coelba, distribuidora do Grupo Neoenergia.
“Esta audiência conjunta reuniu pescadores, agricultores, comerciantes e demais membros da sociedade civil e do poder público municipal, estadual e federal. Tudo isso para discutir o que até agora não tinha sido debatido desta forma: a recuperação ambiental do Rio Jequitinhonha. Este é só o primeiro passo, mas a comunidade de Belmonte deu uma demonstração inequívoca de força e compromisso com o meio ambiente”, afirmou o petista, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente, Seca e Recursos Hídricos da Assembleia Legislativa e coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Bahia.
No encontro com a população local na Câmara de Vereadores, sobraram queixas e reclamações por conta da intervenção no rio iniciada em 1999 com a construção do reservatório. Em seus relatos, o testemunho de quem perdeu seu meio de trabalho e única fonte de renda, proveniente do rio Jequitinhonha, que em tupi significa rio largo cheio de peixes. A inundação, por exemplo, impossibilitou a perpetuação de algumas espécies. O robalo, segundo os pescadores e as marisqueiras, simplesmente sumiu.
“Esse rio tinha tanto robalo, era tanto peixe, hoje está muito difícil para os pescadores ganharem a vida”, afirma Pedrina, representante da Associação de Marisqueiras. “O que ocorre quando a gente corta uma veia, uma artéria? A gente morre, e é isso que está acontecendo com o nosso Jequitinhonha”, emenda o pescador Ailton, ao observar que os peixes não conseguem subir na barragem para se reproduzir.
Os moradores também lembraram que na época da instalação da usina a empresa prometeu benfeitorias para as cidades atingidas, mas nada foi cumprido. ”O empreendimento que gera tanto lucro para a empresa, tem que gerar benefícios também para a comunidade que é atingida e prejudicada por esta intervenção no rio”, observa Marcos Galinho, engenheiro civil e professor em Belmonte. ”Todo mundo não tá ganhando dinheiro com a hidroelétrica? Então é hora de reverter um pouco desse dinheiro para o bem da comunidade que é atingida por ela”, sugere Carlos Alberto, Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do município. “Se compararmos as imagens antigas do Google, tiradas por satélite, vamos constatar o assassinato do Rio Jequitinhonha”, conclui Carlos Schneider, da Fazenda Boa Vista.
A Prefeita Alice Elias também reconheceu em seu pronunciamento que Belmonte foi bastante prejudicada e disse que está comprometida com essa luta e que irá buscar as reparações devidas ao município pelos estragos causados pela hidroelétrica.
A reunião foi muito importante, já que, Belmonte já teve diversos prejuízos nas mais variadas áreas e nenhuma força política se levantou em sua defesa. Vários governos entraram e saíram e a cidade só veio perdendo espaço nos seus interesses. Podemos citar como exemplo a transferência da maioria do território da Veracel para Eunápolis, a estrada Belmonte x Canavieiras que já consumiu mais de um milhão de reais e nunca saiu do papel, entre outras reivindicações e sonhos que ficaram pelo caminho. Esperamos que as ações dessa reunião não fiquem só no debate e virem realidade, mas, tal realização já se revela um grande avanço, pelo menos, vimos que as autoridades reconhecem o problema e que alguma ação tem que ser tomada para compensar as pessoas prejudicadas.