data Categoria: Especial |  data Postado por redacao há 12 anos | Imprimir Imprimir
História das Filarmônicas Belmontenses

Belmonte se orgulha de suas tradições, de sua memória, do seu patrimônio cultural e, nesse contexto, merecem especial relevância as sociedades filarmônicas, de grande sucesso no final do século XIX e nas primeiras décadas da segunda metade do século XX.

A primeira delas, em Belmonte, foi a Sociedade Filarmônica XV de Setembro, ou Sociedade Filarmônica de Belmonte, fundada em 15

Filarmônica XV de Setembro

XV de Setembro

de setembro de 1895, e carinhosamente chamada de ¿Quinze¿ pelos seus adeptos e admiradores. A outra era a Filarmônica Bonfim, fundada pela família do Cel. José Gomes de Oliveira, que foi intendente municipal, em dois períodos (1890-1896 e 1896-1899) e integrava uma das mais poderosas famílias belmontenses do final do século XIX, no período áureo dos clavinoteiros.

Nos estatutos dessas filarmônicas, consta como objetivo principal a cultura da arte musical, incluindo a criação e manutenção de uma escola de música para manter valorizado o seu corpo de estante. Em princípio, as filarmônicas não tinham caráter político. Todavia, o que se via na prática era exatamente o contrário, porque elas, no transcurso do tempo, iriam marcar o compasso e dar o tom, não somente nas atividades culturais-recreativas, como também nos acontecimentos políticos.

Um acontecimento de caráter humanitário, relacionado com a Sociedade Filarmônica XV de Setembro, ocorreu na epidemia de varíola que assolou a cidade de Belmonte em 1910. A diretoria da filarmônica cedeu sua sede social para abrigo dos doentes. Por causa disto, o prédio ficou interditado por alguns anos. Em consideração ao ato generoso, o governo municipal, através da Lei n. 92, de 18 de dezembro de 1911, isentou-a de impostos.

Nos primeiros anos do século XX, a Filarmônica Bonfim foi desativada. A 07 de dezembro de 1914, numa reunião transformada em assembléia, foi constituída a primeira diretoria da Filarmônica Lira Popular de Belmonte, que incorporou 17 músicos da antiga Filarmônica Bonfim e seu instrumental.

Filarmônica Lyra Popular de Belmonte

Lyra Popular

Essas filarmônicas estavam vinculadas a grupos políticos diferentes, o que ocasionou verdadeiros duelos, não apenas de caráter artístico, como também com armas de fogo, por conta dos clavinoteiros que defendiam suas facções políticas. A Filarmônica de Belmonte, nos anos de 1930, tornou-se simpática ao grupo dos integralistas, formado por italianos e seus descendentes, enquanto a Filarmônica Lira Popular estava vinculada ao grupo político da família Gomes de Oliveira.

Segundo relatam as professoras Ariadne da Silva Rocha e Maria Adalcy Rocha Brazão Santana (1992), em uma monografia baseada em depoimentos de Faustiniano Henrique do Carmo (Senhorzinho da Lira), no ano de 1919, houve um confronto violento entre homens vinculados à Lira Popular e homens do Cel. Alfredo Matos, um dos poderosos da cidade, pessoa ligada à Filarmônica XV de Setembro.

Tudo começou quando o velho Acelino, pai do músico da Lira, Felismino Pereira dos Santos, foi espancado por homens do Cel. Alfredo Matos, o que deixou a população revoltada. À tarde do mesmo dia, os bandidos tentaram matar o presidente Aristóteles, o que levou os homens da Lira à reação, transformando a Rua XV de Novembro em verdadeira praça de guerra. Dias depois, um músico da Lira chamado Zeferino foi assassinado.

Passando por altos e baixos, essas sociedades musicais particulares iam marcando o cotidiano da sociedade belmontense, arrastando multidões às ruas, às praças, tanto nas festividades cívicas e religiosas, como nos acontecimentos políticos.

Outro grande momento dessas filarmônicas aconteceu em 16 de julho de 1948, dia de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Belmonte. O presidente da organização das festividades, considerando a importância da data festiva, que atraía, como atrai ainda, muitos visitantes, resolveu mandar construir dois coretos para apresentação das duas filarmônicas: a XV de Setembro e a Lira Popular.

Encerrada a festa religiosa, às 9 horas, com a bênção do S. Sacramento, por D. Eduardo, bispo da Diocese de Ilhéus, começaram as apresentações musicais. Cada uma das filarmônicas procurava apresentar o melhor do seu repertório, uma após a outra. A cada apresentação havia aplausos e vaias.

Às 5 horas da manhã, quando o bispo ia celebrar a missa, as duas filarmônicas estavam lá, exaustas, sem qualquer disposição de abandonar o posto, nem a pedido do líder religioso. Somente ao meio dia, foi que os presidentes das respectivas agremiações subiram simultaneamente aos coretos e desceram com os seus maestros, encerrando assim o duelo musical. Musical apenas porque foi encerrado em tempo: as armas estavam lá, embaixo dos coretos, prontas para qualquer emergência.

Em 1951, no governo de Regis Pacheco, a Lira Popular participou em Salvador das comemorações do centenário de Rui Barbosa, como representante das filarmônicas do interior da Bahia. Em 1961, já no governo de Juracy Magalhães, participou de um concurso de bandas do interior da Bahia, ¿Salve Retreta¿, classificando-se em primeiro lugar.

A partir da década de 1970, as filarmônicas vêm perdendo o seu prestígio, em razão da popularização das bandas modernas, que têm influenciado na cultura musical, especialmente das gerações mais jovens. Contudo, alguns segmentos ligados à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia estão procurando revitalizar essas filarmônicas como preservação do patrimônio cultural.

Texto extraído da dissertação BELMONTE, MEMÓRIA, CULTURA E TURISMO: numa (re)visão de Iararana de Sosígenes Costa, de DURVAL PEREIRA DA FRANÇA FILHO, apresentada à Coordenação do Mestrado em Cultura & Turismo ¿ Linha ¿A¿ (Cultura), da Universidade Estadual de Santa Cruz ¿ UESC/Universidade Federal da Bahia ¿ UFBA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.

 

FONTE: www.belmontebahia.com