data Categoria: Colunas |  data Postado por Anildo há 14 anos | Imprimir Imprimir
Babaco e a Bicicleta de Maroca.

Babaco era o homem melodia desta terra. Pensava, vivia e respirava música. Profundo conhecedor de teoria musical, vivia alegre, assoviando acordes que davam vida a dobrados em partituras que se perpetuaram. Simples, de uma fidelidade e cumplicidade a sua companheira Maroca e sempre pronto para explicar uma seqüência de acordes aos seus discípulos, Babaco envelheceu e morreu sem perder a alegria – e sabedoria – próprias dos homens diferentes.
Recebeu na pia batismal o nome de Barcelar com o qual não tinha identificação porquanto preferia o popular Babaco, carinhoso e mais apropriado para as “molecagens” criadas nas rodas de amigos. Averso a bens materiais, Babaco ganhou de sua querida Maroca, uma bicicleta, novidade em tempos difíceis, mas de múltiplas utilidades nesta cidade plana, de traçados retos e de muita areia nas vias que ligavam Biela a Ponta de Areia. E lá se ia Babaco, “barbeirando” a sua preciosa bicicleta, comprar peixe na Tarifa – até hoje eu não sei por que não Mercado de Peixes? – ou seguindo o cheiro do café torrado na hora, na Torrefação de Lula. Vez por outra, ia à Ponta de Areia comprar no armazém de Quintino que tinha a fama de vender mais barato e passar o troco a mais, como estratégia para aumentar a clientela.
Branquinho, mirradinho, lá ia Babaco solfejando, garbosamente pilotando o seu bem material mais importante, a bicicleta, presente de Maroca. Babaco, digamos assim, era “fissurado”pela sua preciosa Monark, marca de sua preferência, todavia se alguém, inopinadamente, a chamasse de Caloi de bucha ! ,Babaco fingia um acesso de convulsão e representava uma queda cinematográfica. A representatividade e a encenação faziam parte de seu cotidiano, A sua alegria e jovialidade contagiavam a todos que o cercavam. Maroca, sua fiel companheira, às vezes se irritava quando o assédio a Babaco era demais, porém, ele o maestro, sabiamente harmonizava os acessos – e excessos – reativos de Maroca, sua eterna escudeira.
O acervo musical deixado por Babaco deve estar esquecido em alguma pasta empoeirada por aí. Todos aqueles que conviveram com Babaco, como discípulos ou amigos, são unânimes em afirmar que vários dobrados, marchas e tantas outras partituras estão adormecidos em alguma prateleira, necessitando que os encontrem para constar na História Musical desta terra, ao lado de grandes Maestros como Santa Fé, Silvino, Antonio Bispo, Ricardo, João de Lila, Adilson e outros. O refrão da música de sua autoria ecoa em nosso passado menino: A bicicleta de Babaco é de Maroca, é de Maroca…