data Categoria: Colunas |  data Postado por Anildo há 14 anos | Imprimir Imprimir
AH! UM GOLE !!!

O povo é pródigo em criar expressões que, logo logo, se incorporam aos usos e costumes. Aqui entre nós não é diferente este poder de criação. Ao longo dos anos criaram-se bordões que foram usados instintivamente no dia-a-dia, quando se justificava a expressão. São exclamações rotineiras nas conversas populares sem o devido cuidado da linguagem polida.

“Lá ele”, por exemplo, é genérico para justificar que o problema não é seu, mas sim de outra pessoa. “Meu colega” expressa a intenção de que seu interlocutor é chifrudo, como você. “Vô Te” funciona como advérbio de negação ou espanto, do mesmo modo que “escroto” deixa de exercer a sua função reprodutiva masculina para identificar o sujeito sem ética e de mau caráter, detestado por todos. “Baranga” é mulher feia, “meu rei” é o cara legal, do mesmo modo que “ficar” é namorar sem compromisso, e por aí vai. “Sifu”, “qualé”, “vai dar”, “sai fora”, e “tudo dentro” são outras pérolas do invencionismo local.

Conviver com bordões é tão natural quanto apelidar as pessoas por um detalhe qualquer. No mundo artístico as personagens ficam mais populares pelos bordões criados. Quem não se lembra de alguns que marcaram época como “eu, hein!”, “Voce só pensa naquilo”, “to pagando”, etc. Sempre há um motivo para o aparecimento e seu respectivo uso.

Assim, ficou muito conhecido e propalado o “Ah! Um gole!” trazido por um palhaço denominado Xumbrega, que era a alegria da garotada, pelo uso de seu bordão quando achincalhava seu partner. O povo da cidade logo incorporou esta expressão para demonstrar insatisfação com algo contraditório. Numa das noites, antes do espetáculo circense começar, na porta do circo a cabriola esperava uma oportunidade para driblar os mata-cachorros, fiscal da cerca do circo, para mergulhar sob a lona. Dois meninos se desentenderam e resolveram acertar as diferenças no braço, numa roda de sem-que-fazer que tudo assistia sem interferir. Em frente ao circo, morava o Delegado de Polícia, que percebendo o tumulto atravessou a rua, separou os brigões e aproveitou para criticar a irresponsabilidade daquela massa barulhenta que logo silenciou. Terminado o sermão do Delegado naquele silêncio reinante entre os presentes, oportunidade em que a autoridade policial retornava para sua casa, quando um garoto, escondido na multidão, gritou em alto e bom som: “Ah um Gole!…O delegado retornou esbravejando, irritado, tentando identificar o moleque, prometendo cadeia sem contudo localizá-lo. E tudo acabou quando o partner anunciou pelos alto falantes: Senhoras e Senhores! … O espetáculo vai começar!!!..