Foi um período diferenciado, aquele em que tudo era grandeza. Riqueza na lavoura, fartura na mesa, famílias enormes, comercio efervescente com Wildberg, Salume, Variedades, Gastão, Abiah Reuter, Zé Gringo Onildo Menezes e tantos outros comerciantes a oferecer seus produtos a fazendeiros, estivadores, carregadores, carroceiros, funcionários públicos, protistutas, macaqueiros, religioso e ateus. Seis clubes sociais e mais de uma dezena de prostíbulos onde os marinheiros se misturavam aos noctívagos contumazes em busca de diversão e das “meninas mineiras” recém-chegadas aos puteiros locais. A noite trazia na movimentação sutil e discreta dos clientes e meretrizes produzidas, prontas para a festança que começava com dança nos salões com pouca luz e impregnado pela fumaça do Astória e do Continental, pelo cheiro da bebida que atiçava os mais tímidos. As andanças noturnas começavam no Céu Azul, Night Club onde as “mulheres de vida fácil” – ou difícil? – dançavam com seus atrativos pessoais à mostra, em movimentos sensuais estimulando a volúpia e o desejo dos “Senhores do Cacau” ou graduados funcionários públicos. Era o puteiro da elite, frequentado por pessoas abastadas que patrocinavam farras homéricas, exclusivas para aqueles privilegiados que lá se encontravam às portas fechadas, assistindo a um espetáculo de luxúria.
No centro da cidade, a agitação ficava por conta da curriola de menor poder aquisitivo que se reunia na “Apolo 11”, no “AKIEQSV”, “Eufrásio”, “Pau Roliço”, “Geraldo”, “Rodrigues” e outros cabarés de menor porte, contudo, de grande atividade noturna. A cidade pulsava a noite toda, durante o ano. Vendedores ambulantes ofereciam churrasquinhos, amendoins torrados, laranjas, pipocas, roletes de cana e outros tira-gostos para recuperar as energias das “cavalgadas” noturnas. Dentre os vários personagens inesquecíveis daquela época, havia o ambulante “Penteado”, com sua vasta cabeleira encharcada com Quina Petróleo, penteada colada ao couro cabeludo, a falar de tudo e de todos, sem ética ou vergonha, o que lhe rendeu muitos desafetos e uma alcunha famosa: “Cinismo de Penteado”, expressão extensiva a pessoas (do nosso convívio) que lhes faltavam melhores atributos por ter a língua solta e o conseqüente envolvimento em fofocas e interesses fraudulentos.
Acabaram-se os bordéis; já não mais existem as “damas da noite”; cafetinas e proxenetas se aposentaram, mas os “Penteados” se perpetuaram até nossos dias.