A festa em louvor a Nossa Senhora do Carmo é a maior manifestação profano-religiosa deste povo. Mudaram-se os procedimentos, as pessoas, os costumes, mas a fé e o profano continuam os mesmos. A igreja é a mesma, a imagem de N. Senhora do Carmo restaurada recentemente e sem a coroa original – furtada há algum tempo – continua altaneira em seu altar. Padre João e sua batina preta já se foram levando a estola vistosa para as noites de gala. As beatas e o coro também se foram para ceder espaço aos novos cantores que entoam os hinos ao compasso de atabaques, pandeiros e violão. O velho piano de dona Dulce se calou para sempre e seus acordes se perderam no tempo. Os padres já não usam batina e não rezam as novenas em latim.
A praça da Matriz, palco de grandes embates futebolístico nos “babas” vespertinos, recebia os bancos de madeira – feitos por caboclo Joel – que serviam de testemunhas dos galanteios dos jovens e abrigavam as fofoqueiras encalhadas. As barracas de palha deram lugar às cobertas com eternit ou plástico mas não têm o glamour da enorme barraca dos irmãos Cinco Horas.
Os ternos e gravatas cederam lugar ao jeans e levaram também a elegância de quem os vestiam. O sino é o mesmo, a Quinze e a Lira também. As filarmônicas já não mais se digladiam, madrugada adentro, apresentando seu rico acervo musical porque perderam terreno para as bandas de axé e outros ritmos em nome da modernidade. Surgiram o “capeta” e os capeteiros, o camelódromo na praça São João, as barracas de lanches e milho verde, os doces da tia Pombinha, os carrinhos de amendoim, pipoca , pururuca e outras guloseimas.
O cheiro que exala das mulheres não é Lancaster ou Gardênia, mas a diversidade aromática da Avon, Boticário, Natura e outros mais sofisticados. A Procissão, que percorre ruas e avenidas apoteoticamente, encolheu. Mas a exuberância e a imponência da Virgem Santa Senhora do Carmo continuam irretocáveis e o símbolo maior de devoção dos católicos continua convergindo pessoas de todos os quadrantes nome da fé inquebrantável de um povo que se rende diante de seus bênçãos . A festa do Carmo será sempre assim…
Foi num desses 16 de julho, precisamente o de l950, quando a procissão retornava para a Matriz, pela avenida Presidente Vargas, sob o apitaço dos navios que estavam ancorados ao longo do cais, que Chiggia, jogador uruguaio marcou o segundo gol no goleiro Barbosa e nos tirou o que seria o primeiro título mundial de futebol. Calou o maracanã e entristeceu os fieis naquela tarde-noite. Mas a festa da Padroeira continuará sendo o ponto maior de fé e devoção para os católicos da freguesia de N.S. do Carmo.